Educação integral e educação em tempo integral: qual a diferença?
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Os termos podem ser parecidos e muitas vezes usados como sinônimos, mas educação integral é diferente de educação em tempo integral.
A educação integral contempla os diversos aspectos do desenvolvimento humano tanto na esfera individual, quanto na vida em sociedade. Desse modo, trabalha as dimensões cognitiva, afetiva, cultural, política, social, física, ética e estética.
Já a educação em tempo integral refere-se à ampliação do tempo de permanência do(a) estudante na instituição de ensino.
“Uma escola de educação integral pressupõe a ampliação da jornada para atender os seus objetivos. Porém, esse não é o único elemento-chave da educação integral. O ensino em tempo integral é necessário, mas não o suficiente. As escolas precisam trabalhar também o currículo e a integração com território.”, ressalta Guillermina Garcia, gerente de programas e projetos do Cenpec.
Para entender mais sobre os desafios e os benefícios da educação integral na aprendizagem dos(as) alunos(as), conversamos com Guillermina Garcia. E você confere agora a entrevista:
Futura: Uma escola em tempo integral não necessariamente promove uma educação integral, certo?
Guillermina Garcia: Certo. Se a escola continuar trabalhando com as disciplinas isoladas umas das outras sem considerar o sujeito na sua integralidade, mesmo ampliando o tempo podemos dizer que ela não está trabalhando com a concepção de educação integral.
Uma escola em tempo integral não necessariamente promove uma educação integral.
Guillermina Garcia
Acredito que deve-se equacionar a quantidade e qualidade da oferta educacional. A peça-chave está justamente no projeto pedagógico que deve considerar essas mudanças no tempo, espaço e currículo da educação integral.
Futura: Escolas em tempo integral ajudam no desenvolvimento dos alunos? Por quê?
Guillermina Garcia: Se elas trabalharem na perspectiva da educação integral para além da ampliação do tempo, sim. Isso implica no reconhecimento dos estudantes enquanto sujeitos em sua diversidade, onde têm a possibilidade de investigarem sua realidade, participarem da construção do projeto pedagógico e do cotidiano da escola. A gente não pode perder de vista essa integralidade dos estudantes.
Se a gente tem uma ampliação da jornada onde as atividades corporais, as diversidades dos componentes curriculares não está presente e há uma diretriz de priorizar atividades de reforço de língua, português e matemática, não estamos no caminho da implementação de uma educação integral. Portanto, a sua contribuição para o desenvolvimento dos alunos fica restrita a essa atuação focada e não ampliada como a educação integral propõe.
Se há uma diretriz de priorizar atividades de reforço de língua, português e matemática, não estamos no caminho da educação integral.
Guillermina Garcia
Futura: Em todo o país, escolas de ensino médio que aderiram ao ensino em tempo integral de 2017 para 2019 melhoraram sua nota no Ideb em 17,3%, enquanto as que permaneceram na jornada regular aumentaram em 9,7%. Como a Educação Integral pode contribuir para a retomada do ensino pós pandemia?
Guillermina Garcia: A educação integral pressupõe trabalhar para ampliar o protagonismo dos estudantes, o que contribui para o engajamento deles com o seu percurso dentro da escola e sua relação com a aprendizagem.
Além disso, ela também pressupõe contemplar o contexto do território. Sendo assim, a escola pode formular estratégias e atuar de uma forma mais assertiva em relação às demandas específicas dos estudantes daquele local. Quando a escola tem esse olhar, ela consegue entender quais são as fragilidades que precisam ser encaminhadas para que os estudantes possam ter um percurso de sucesso na sua relação com aprendizagem.
Futura: E quais barreiras podem ser encontradas?
Guillermina Garcia: Um dos maiores desafios é a falta de infraestrutura das escolas. A ampliação da jornada traz uma demanda ainda maior em relação à infraestrutura que vai desde condições para que os estudantes permaneçam o dia todo (alimentação, higiene e espaços adequados) como também para realizar atividades diversas.
Outro desafio é repensar o currículo numa perspectiva integrada. Se as atividades são realizadas em turnos separados, por exemplo, reforça uma visão tradicional onde no turno tem as disciplinas e no contraturno tem o lazer e a fruição de atividades complementares. A gente tem que conseguir integrar esses dois turnos num período onde iremos trabalhar com as questões previstas na BNCC e também com a ampliação dos saberes locais, da relação com o território, autonomia e protagonismo dos estudantes.
Sem recursos não é possível implementar uma educação integral de qualidade.
Guillermina Garcia
Outra barreira é a formação de professores. Uma mudança de perspectiva requer uma formação continuada para que os professores possam rever sua forma de trabalhar. Isso nem sempre acontece e impacta diretamente na implementação dessa política. Um caminho ideal é construir diretrizes, detalhar o funcionamento e a implementação em conjunto com os profissionais da rede e ter um bom plano de formação continuada.
Por último, a falta de recursos. Tivemos uma descontinuidade do Programa Mais Educação, além de cortes drásticos no projeto de lei orçamentária de 2023. Sem recursos não é possível implementar uma educação integral de qualidade.
Futura: Quais estratégias pedagógicas os educadores podem aplicar no chão de escola para promover uma educação integral?
Guillermina Garcia: Organização do currículo com base nas necessidades e nos problemas cotidianos da comunidade, trazer um protagonismo dos estudantes nos projetos pedagógicos são estratégias que podem ser aplicadas pelos professores.
É imprescindível que a cultura, os problemas da comunidade, demandas específicas sejam eixos temáticos das ações pedagógicas. Os conteúdos devem ser escolhidos com base na reflexão sobre o ser humano que se pretende formar e para que sociedade a gente está direcionando o trabalho daquela escola.
Um trabalho na perspectiva da interdisciplinaridade é muito interessante. Podem ser trabalhadas oficinas que dialoguem com diferentes disciplinas como, por exemplo, dança e matemática ou trabalhos por projetos.
Mas tudo isso depende de uma condição favorável para a aprendizagem e isso nem sempre depende apenas da escola. Então, o trabalho intersetorial também é muito relevante para que aqueles estudantes que frequentam a escola tenham suas condições garantidas.
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Educação Integral e PNE
No último Censo Escolar, mostrou um aumento das matrículas em tempo integral. Estudantes matriculados em tempo integral nos anos finais do ensino médio representavam 9,9% em 2021 e saltaram para 13,7% em 2022.
Já no ensino médio, 20,4% dos estudantes da rede pública estavam matriculados em tempo integral em 2022. No ano anterior, eram 16,7%.
Confira uma análise do Censo Escolar 2022 aqui
A meta 6 do Plano Nacional de Educação (PNE) é oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% das escolas públicas de forma a atender, pelo menos, 25% dos(as) alunos(as) da Educação Básica até 2024.