Hibridismo exige acolhimento, seleção e curiosidade
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Nem mesmo nas descobertas do campo da genética (a Lei de Mendel), a questão do hibridismo esteve tanto em pauta quanto agora no retorno das escolas às aulas. Não para menos, a palavra, envernizada e pomposa, tende a assustar a grande parcela de educadores que não conseguiu manter um padrão nos processos de ensino-aprendizagem durante o ensino remoto emergencial e vive ainda à sombra dessa questão.
De fato, a mistura do digital e do físico pode assustar sob dois aspectos: a falta de estrutura/de escolas e lares (a última pesquisa do IBGE mostrou que 20% dos lares brasileiros não têm acesso à internet) e a muitas vezes a anacrônica formação inicial para lidar com essa realidade. Quanto à primeira questão, o “advocacy” de grupos que defendem o direito à banda larga como essencial e a conexão do poder público com o Marco Legal da Internet precisam estar fortalecidos e atuantes.
Por outro lado, a questão do descompasso entre a formação docente e a realidade da sala de aula ainda é um problema sistêmico brasileiro. A Base Nacional Comum de Formação (BNC) - tanto Inicial quanto continuada - , tende a se focar nas competências principais da BNCC e reduzir o hiato entre ensino propedêutico e prática. Dando destaque ao desenvolvimento de competências digitais, por exemplo.
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Entretanto, enquanto essa não é uma realidade equânime no Brasil, torna-se fundamental desmistificar o que está por trás da tal educação híbrida e torná-la acessível a todos. Em primeiro lugar, no léxico: híbrido é aquilo formado duas por mais partes, neste caso virtual e físico.
Quando compreendemos a realidade brasileira de imediato sabemos que a presença física no ambiente escolar representa, para a maioria dos alunos, o acolhimento e a experiência social; esse é o ponto central da importância do ensino presencial. Por outro, o universo digital representa campos de linguagem e cultura importantes na vida contemporânea. Como podemos então promover uma educação que misture esses dois territórios - o físico e o virtual?
Uma pergunta simples, mas essencial, é capaz de orientar os educadores durante toda essa jornada: qual o objetivo da aprendizagem em questão?
Nada do que for experimentado, criado ou multiplicado na educação híbrida deve fugir a esse princípio elementar, o de fomentar a curiosidade e melhorar a aprendizagem do estudante, em função da realidade possível daquele momento.
Se o objetivo é que o estudante compreenda melhor aspectos do Brasil Império, por exemplo, esse será o norte da construção de uma trilha híbrida por parte do educador. A segunda pergunta, que é também bastante prosaica, mas deve ser respondida com franqueza é: como os alunos aprendem melhor no presencial e o que mais é atrativo quando estão em casa?
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A terceira e última questão é: quais as condições de conexão a internet e disponibilidade de telas na escola e nas famílias?
Após levantadas respostas, é hora de criar uma estratégia que envolva acolhimento, seleção de recursos e mantenha viva a curiosidade do grupo. Em muitos casos, as chamadas salas de aula invertidas são um excelente começo se há possibilidade dos estudantes assistirem a um vídeo em casa. A escolha de um audiovisual de ficção baseada no período da história em questão, por exemplo.
Os debates então devem começar, de preferência, presencialmente. Para aprofundar a questão, os estudantes podem representar, em grupos, personagens do império e defender os interesses da época. Por fim, para se aprofundar, há jogos interativos de perguntas e respostas e outros links interessantes do próprio Canal Futura para que sejam explorados pela classe.
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É importante reparar que a a construção da aprendizagem significativa é uma referência que não saiu do foco durante a criação desse processo. Por outro lado, as competências digitais do educador ligadas às pesquisas em recursos educacionais abertos (REA) são importantes para a construção da trilha que pode ser refinada, após a primeira experimentação. Ainda sim, com o passar do tempo. há formas de incorporar mais camadas de aprendizagem digital e presencial ao ciclo.
O convite ao conhecimento - híbrido ou não- deve manter-se sedutor à curiosidade do estudante, embora o professor saiba que o caminho não será o tempo todo fácil, tampouco cem por cento prazeroso. Mas, neste mês em que se comemora o dia do professor, cabe ele empacotar esse convite com elementos da cultura e interesse dos estudantes, promovendo assim engajamento e diálogo. Esse sim, um presente inesquecível a educadores e educandos.