Artigo: Jovens “sem-sem” e a desigualdade educacional no Brasil

Jovens “sem-sem” e a desigualdade educacional no Brasil

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Pesquisa mostra que 27% dos jovens brasileiros estão sem estudar e sem trabalhar. Esse dado também é um reflexo da desigualdade no acesso à educação básica.

“O que você quer ser quando crescer?” Há poucos anos, quando uma criança ou jovem se deparava com essa pergunta, as opções de resposta eram mais restritas e estabelecidas. Jogador de futebol, astronauta, médico, cientista, professor, engenheiro… Hoje, há uma gama de respostas para essa pergunta.

As novas tecnologias, os novos modelos e formatos de trabalho e o maior acesso a informações de qualquer lugar do mundo a um clique de distância trouxeram uma realidade inédita ao mercado profissional. Inclusive, profissões que sequer cogitamos hoje devem surgir em até cinco anos, como mostra o relatório “O Futuro dos Trabalhos” (The Future of Jobs, FEM, 2020).

Até 2025, a perspectiva é de que 15% da força de trabalho no Brasil seja interrompida e 6% realocada; 85 milhões de empregos podem ser substituídos, enquanto mais de 90 milhões de novos postos podem surgir.

Diante deste cenário tão dinâmico e em constante transformação, não é tão simples ter clareza sobre qual caminho profissional seguir. Dúvidas, incertezas e inseguranças podem vir à tona sobretudo entre os jovens, pessoas de 15 a 29 anos.

27% dos jovens no Brasil estão sem estudar e sem trabalhar

Lançada em março deste ano no Youtube do Canal Futura, a pesquisa “O Futuro do Mundo do Trabalho para as Juventudes Brasileiras” revela que 27% dos jovens não  estudam e nem trabalham, conhecidos como jovens “sem-sem”. A pesquisa mostra ainda que 39% destes meninos e meninas só trabalham, outros 15% somente estudam e 14% estudam e têm emprego. Por fim, 5% estudam, mas estão desempregados.

“O termo ‘sem-sem’ refere-se a uma parcela da juventude que está fora do mercado de trabalho e de qualquer instituição de ensino. Quando a gente usa o termo ‘nem-nem’ [para se referir aos jovens que nem estudam e nem trabalham] dá a impressão de que a responsabilidade desta condição é do jovem. O termo ‘sem-sem’ traz o olhar para uma situação social, onde há desigualdade de oportunidades e formação entre os jovens do Brasil. “, afirma Felipe Santos, Analista de Pesquisa e Avaliação da Fundação Roberto Marinho (FRM).

O levantamento é da Fundação Roberto Marinho, Itaú Educação e Trabalho, GOYN SP e fundações Arymax e Telefônica Vivo. Na apuração, executada pelos institutos Cíclica e Veredas, 34 organizações que lidam com a inserção dos jovens na vida profissional também responderam a um questionário sobre a inclusão produtiva da juventude.

A pesquisa também mostra que os mais atingidos pela taxa de desocupação entre os jovens são as mulheres, os negros e os menos escolarizados.

A taxa de desocupação entre jovens é mais alta entre as mulheres, os negros e os menos escolarizados.

Para Felipe Santos, o problema da alta taxa de desocupação também tem relação com a desigualdade de acesso à Educação Básica: “ Uma parte importante desses jovens não possui o Ensino Médio completo, ou até mesmo o Ensino Fundamental, e isso faz com que estejam suscetíveis aos empregos de pior remuneração, por exemplo. É um cenário complexo para todos os jovens, especialmente os mais vulneráveis. A educação básica é o primeiro passo quando se trata de qualificação.”, complementa o analista.

Mais de 1 milhão de crianças e adolescentes de 4 a 17 anos estão fora da escola (Pnad Contínua, IBGE, 2° trimestre, 2022).

Quando analisamos o fator socioeconômico, vemos uma enorme disparidade educacional. A escolaridade média da população de 18 a 29 anos é de 13,6 anos entre os mais ricos, ultrapassando a meta do PNE que é de 12 anos.  Já entre os mais pobres, cai para 9,9 anos.

O percentual de jovens de 15 a 17 anos que frequentam o ensino médio ou haviam concluído a Educação Básica é de 91,1% entre os mais ricos e de 61,1% entre os mais pobres, ficando abaixo dos 85% estipulados pelo PNE.

Gráfico com dados relacionados ao contreúdo do artigo.

O levantamento aponta ainda que um dos caminhos para a inclusão produtiva das juventudes é a profissionalização, que compreende tanto a educação profissional e tecnológica quanto às iniciativas de aprendizagem baseadas no trabalho.

A pesquisa também dá alguns caminhos para que isso aconteça: É preciso mais oferta de educação profissional e tecnológica, expansão de cursos, ações afirmativas, novos desenhos para aprendizagem baseados no trabalho, estágios supervisionados, além de garantias de permanência para os jovens na escola.