Matemática e suas origens africanas
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Um dos motivos de eu ter escolhido a computação foi a aproximação com a ciência que eu tive na infância, eram horas dedicadas a tentar compreender os experimentos no desenho laboratório de Dexter, às vezes eu achava, outras não. Cresci e o interesse pela arte tecnológica aumentou, pela matemática só aflorou, mas, tinha uma história não contada nos desenhos e nem nos livros didáticos da minha escola, cresci e fui busca-lá. A minha primeira coluna é sobre a história que estou descobrindo a cada livro lido, texto achado, artigo publicado sobre a matemática não contada na infância.
A matemática é uma das disciplinas mais temidas pelos alunos do ensino básico, apesar da ampla utilização da matemática em nosso dia a dia, não é obvio a matemática como ferramenta acessíveis a todas, ou deveria ser. Algumas correntes educacionais e psicológicas dividem a absorção de conhecimento matemático ligado a capacidade cerebral de cada entender, uns são mais lógicos, outros mais artísticos, essa explicação ainda me causa dúvidas já que assumimos em muitas frentes de que matemática é arte também.
Algo que também não é óbvio é a matemática como ferramenta para ensinar alguns alunos que europeus são culturalmente superiores aos africanos, por exemplo, a maioria dos livros que tratam a história da matemática dedica apenas algumas páginas ao antigo Egito e ao norte da África durante a Idade Média, geralmente não há conteúdos sobre a África subsaariana, isso me causou curiosidade.
O que tem pra lá que não está acessível? Durante a pesquisa conheci o livro African Mathematics de Abdum Karim Bangura, nascido em Serra Leoa, cientista político, com 3 mestrados e 5 doutorados (Ciência Politica, Economia, Linguistica, Ciencia da Computação e Matemática). Neste livro o doutor Bnagura, compartilha a partir de sua pesquisa e outros trabalhos de cientistas africanos a enorme contribuição dos cientistas africanos da África subsaariana invisibilizada ao longo do tempo, não podemos deixar a visão eurocêntrica separar a civilização egípcia de suas raízes negras africanas.

A geometria é uma área que eu sempre tive dificuldade na matemática, para ser mais específica a geometria espacial, a forma que ela é colocada no ensino brasileiro não contribui muito para o desenvolvimento amigável, eu tinha dificuldades de imaginar sem estar tocando ou visualizando a imagem o que o professor estava citando como exemplo, conforme eu vou me aprofundando na história da matemática africana eu vou entendendo como as formas importam. No livro citado anteriormente, por exemplo, é possível conhecer que o pensamento geométrico começou cedo na história africana, os caçadores do deserto de kahari no sul da África, aprenderam a rastrear animais, interpretas rastros a partir do formato do rastro que informava sobre qual animal passou, há quanto tempo, se passou fome ou não. A geometria espacial lida com formas, diferentes formas geométricas, mas aqui estamos acostumados a analisar de forma muito dura tudo e não associada a contextos como estes. Ao longo do desenvolvimento do pensamento geométrico no sul da África, foi possível reconhecer a contribuição em outros espaços, como arte, a cultura, esferas importantes que ajudam a geometria a fazer parte do nosso imaginário de forma concreta.
Este texto é só mais um texto entre tantos em novembro que vão apontar a importância da população negra ao longo do desenvolvimento cientifico matemático, mas para além disso, é um desejo de uma educação menos eurocêntrica, precisamos cada vez mais investir em reconhecer a história da matemática em uma perspectiva afrocentrada, construindo para uma gama maior de possibilidades e de aprendizado, a matemática não foi pensada para gênios.