Artigo: Por menos seguidores e mais amigos

Por menos seguidores e mais amigos

Volta e meia quando falam de educação midiática a associam com o uso de tecnologias. Mas não é. Educação midiática vai desde o trabalho com cartolina até o uso de aplicativos. O princípio é sempre ter o material mais adequado para o propósito da atividade. Nesse contexto - depois de dois anos de pandemia - seja a hora de deixar o digital de lado e focar em mídias que possam aproximar mais do que afastar.

Pesquisa divulgada recentemente mostra que o número de jovens que dizem não ter amigos aumentou nos últimos anos. Os dados preocupam quando pensamos que grande parte da mediação destes estudantes com outros alunos durante os últimos meses foi através de telas. As mesmas telas que, quando se clica, mostram perfis com postagens com diversas curtidas e contas com vários seguidores. O reflexo dos celulares muitas vezes não corresponde à realidade.

A interação nos corredores de uma escola, nos recreios, nos trabalhos das diferentes disciplinas passam a ter a difícil missão de resgatar - ou até mesmo criar - vínculos. O levantamento mostra que o grupo que menos têm amigos são as meninas de escola pública, o que demonstra outra característica que precisa ser avaliada: a total falta de disponibilidade de recursos tecnológicos durante os últimos dois anos para que se tenha qualquer interação.

Com ou sem acesso aos dispositivos, o que fica claro é que a solidão avançou sobre a juventude. No início da pandemia se afirmava que teríamos algumas ondas: as duas primeiras relacionadas a expansão do vírus e a letalidade que vem com ele sem vacina; a terceira ligada à economia devido ao fechamento de setores do mercado para prevenção de casos de Covid-19 e a quarta que seria a eclosão de casos ligados à saúde mental.

A escola - em caráter emergencial - lidou com as duas primeiras utilizando do ensino remoto, sem qualquer apoio estruturado governamental. Com os atuais cortes nos colégios públicos e a perda de poder aquisitivo dos pais na iniciativa privada, as escolas sofrem o impacto da terceira onda. Mas, a quarta onda já está presente e mais uma vez parece que a missão de dar solução para ela está com os educadores.

Uma tarefa importante e ingrata. Importante pela necessidade de apoio aos estudantes nesse momento delicado. Ingrata porque a formação docente não foi para esse objetivo, muitas escolas não contam com psicopedagogas e o próprio professor precisa de amparo para a sua saúde mental nesse momento.

Apesar de todos os desafios, a experiência pode indicar os primeiros caminhos. Eles estão nas velhas práticas que juntavam alunos, faziam eles interagir, se olharem, rirem de si e criarem amizades. A escola deve voltar a ser o espaço do encontro.

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