Excesso de trabalho adoece professores dos anos finais do ensino fundamental
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Professores chegam a trabalhar 60h por semana e dão aula para 500 alunos. É o que mostra estudo do Itaú Social, Fundação Carlos Chagas e Associação D3e.
Sobrecarga de trabalho, grande volume de turmas, mais de uma matrícula e muitos alunos por professor. O resultado? Adoecimento.
A realidade, que não é novidade para muitos educadores no Brasil, foi traduzida em números no relatório “Volume de trabalho dos professores dos anos finais do ensino fundamental”, apresentado por Itaú Social, Associação D3e (Dados para um Debate Democrático na Educação) e Fundação Carlos Chagas.
No mês dos professores, o Canal Futura e a Fundação Roberto Marinho trazem uma série de conteúdos para ilustrar os desafios da profissão.
O levantamento traz um panorama das condições de trabalho dos professores dos anos finais da educação fundamental nas redes municipais e estaduais do Brasil.
O estudo chegou às seguintes conclusões:
- Os professores dão aulas para 5 a 17 turmas, em média.
- Eles têm carga horária que varia entre 20 a 60h por semana.
- Atendem, em média, 228,6 estudantes (no entanto, existem redes com médias inferiores a 50 e outras que ultrapassam 500 alunos por professor).
- Têm alto volume de trabalho quando comparado a professores de outros países.
Nos EUA, França e Japão, por exemplo, os professores trabalham, em média, em apenas em uma escola de uma rede. No Brasil, 45% dos professores atuam em mais de uma escola e 30% em mais de uma rede.
A quantidade de alunos atendidos por professor varia muito de acordo com cada rede. Existem escolas em que um docente atende 11 alunos e outras 525 alunos.
Gabriela Moriconi, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas e coordenadora da pesquisa, acredita que o Brasil precisa avançar na discussão sobre a média de alunos por professor. O estudo sugere que um docente atenda, no máximo, 210 alunos.
Há uma recomendação do Conselho Nacional de Educação sobre a quantidade máxima de alunos por turma (30). Mas não há diretrizes sobre a quantidade máxima de alunos por professor e nem do número máximo de turmas que um docente deve lecionar
Gabriela Moriconi
45% dos professores trabalham em mais de uma escola
A pesquisa analisou 10 redes estaduais e municipais brasileiras a partir de dados do Censo Escolar da Educação Básica de 2020, produzido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Professores de Língua Portuguesa e Matemática tendem a ter menos turmas do que os de Inglês, Educação Física e Artes
Outro ponto que merece destaque é que, mesmo nas redes em que as jornadas em sala de aula são mais reduzidas, ainda existe a possibilidade dos professores de Artes, Educação Física e Inglês assumirem um número relativamente elevado de turmas.
Foi o caso de Geane Senra, professora da secretaria municipal de educação do Rio de Janeiro. No ano passado, ela assumiu 20 turmas com, aproximadamente, 42 alunos cada.
“ A escola não possuía uma sala de Artes, então eu me deslocava entre as turmas carregando muitos materiais de diferentes assuntos. Eram 20 planejamentos semanais, mais de 800 alunos para avaliar, fazer frequência, muitos relatórios etc. As horas de planejamento não eram suficientes para o volume de trabalho”, relata Geane.
A sobrecarga de trabalho impactou a saúde da professora:
Durante esse período, adoeci algumas vezes, senti muita estafa e não conseguia realizar meus projetos com os alunos como gostaria. Além disso, não tinha tempo para dar continuidade aos meus estudos, como realizar uma pós-graduação ou mestrado
Geane Senra
Professor atende, em média, 228,6 estudantes. Mas, pode variar de 11 para 525 alunos, dependendo da rede
É essencial que as secretarias de ensino tenham um olhar atento ao volume de trabalho dos professores. Como relatou Geane, a sobrecarga pode afetar negativamente a saúde dos docentes. Além de ser um problema grave por si só, ainda pode levar a faltas e à necessidade de substituir profissionais.
Outro fator importante é que essa sobrecarga afeta a qualidade de trabalho dos professores, o que tem um impacto direto na aprendizagem dos estudantes.
Como mudar essa realidade?
As redes de ensino brasileiras estão localizadas em contextos e realidades bem diversas. No entanto, existem alguns caminhos que podem contribuir para condições de trabalho mais adequadas aos professores.
O relatório faz sete recomendações para secretarias estaduais e municipais de Educação:
- Adotar a jornada de trabalho integral como padrão e ter a parcial como opção
- Limitar a carga horária de trabalho na rede a 40 horas semanais
- Garantir o uso de ⅓ da jornada para o trabalho extraclasse
- Pagar remuneração atrativa
- Concentrar a atuação em apenas uma escola, com papel ampliado
- Repensar a organização das matrizes curriculares, considerando a carga atribuída a cada componente e as suas consequências para o número de turmas por professor
- Garantir que as turmas dos anos finais do ensino fundamental tenham no máximo 30 alunos
Sobre o Futura
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