Desertos alimentares urbanos e o empreendedorismo na alimentação
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Precisamos falar sobre algo que nos move desde o início da nossa existência enquanto espécie. Causadora de grandes revoluções e responsável por saltos evolutivos marcantes em nossa história, hoje batemos um papo sobre alimentação.
Vivemos uma época em que, se tratando de alimentação, estamos retrocedendo a passos largos. A insegurança alimentar grave voltou a ser pauta presente em nosso país e atualmente 58,7% da população brasileira sofre com algum grau de insegurança alimentar, dessa parcela 33,1 milhões de pessoas não tem o que comer. É fato, a comida não chega mais no prato de brasileiros e brasileiras, e para além disso precisamos fazer uma reflexão que é de extrema importância para mudarmos as atuais estruturas que sustentam locais de vulnerabilidade para populações periféricas: as pessoas precisam se alimentar, isso é óbvio, mas para além disso elas precisam se alimentar bem.
Desertos alimentares urbanos podem ser entendidos como regiões em que existe a escassez, ou total falta de alimentos in natura ou minimamente processados. Formados em espaços urbanos periféricos de baixos indicadores sociais, os desertos alimentares urbanos são categorizados como áreas em que existam 10 ou menos estabelecimentos comerciais que sejam grandes em estrutura e que possuam alimentos saudáveis com preços acessíveis e não necessitem de deslocamento maior do que 1,5 quilômetros.
A relação entre a falta de estruturas básicas para manutenção da saúde e qualidade de vida e quem são as pessoas que mais sofrem por isso é mais uma vez clara e óbvia. Um estudo realizado pelo IDEC (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) mostra que, em 12 das 21 capitais brasileiras o grupo de subdistritos em que existem uma quantidade menor de estabelecimentos que oferecem alimentos saudáveis, é também o de menor renda.
Trocando em miúdos, esta população estará mais apta a desenvolver problemas de saúde como diabetes, pressão alta e até problemas de desnutrição. Sofre-se com a forme, e sofre-se também com a fome de sustância, com a falta de obtenção de nutrientes básicos, necessários à manutenção da saúde. A OMS recomenda o consumo do mínimo de 400g de frutas e hortaliças por dia, e somente 10% dos brasileiros conseguem atingir essa meta de acordo com a pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE.
E aí, vale a reflexão: Evoluímos tanto quando falamos sobre alimentação, criamos estruturas enormes que se baseiam na necessidade humana de obter alimentos de maneira rápida e segura, criamos laços com a terra e organizamos toda a nossa sociedade atual em torno da evolução da agricultura. Mas isso vale pra todo mundo?
Como tudo na vida, existe solução, e como tudo na vida ela parte da base. Fortalecer o empreendedorismo no setor de alimentação, a agricultura familiar e o corre de quem quer fornecer comida boa, nutritiva e de qualidade pra periferia é o caminho. E é aí que tá, mais uma vez a gente precisa dar um passo pra trás, valorizar quem está ali, pequeno em estrutura, mas oferecendo o que os grandes não oferecem, não sem cobrar caro por isso.