Ideb: Brasil avança em todas as etapas no ensino, mas em ritmo lento. E como será em 2021?
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O Brasil avançou no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) em todas etapas de ensino. O Ideb foi medido em 2019, antes da pandemia. Apesar do avanço, somente os anos iniciais do ensino fundamental, do 1º ao 5º ano, cumpriram a meta de qualidade nacional.

O índice registrado nos anos iniciais no país passou de 5,8, em 2017, para 5,9, em 2019, superando a meta nacional de 5,7 considerando tanto as escolas públicas quanto as particulares.
Nos anos finais do ensino fundamental, do 6º ao 9º ano, o Brasil avançou de 4,7 para 4,9. No entanto, ficou abaixo da meta fixada para a etapa, 5,2. No ensino médio, passou de 3,8 para 4,2, ficando também abaixo da meta, que era 5.
Para fazer essa análise dos dados do Ideb, convidamos Pilar Almeida, diretora da Fundação SM Brasil e Rosalina Soares, assessora de Pesquisa e Avaliação da Fundação Roberto Marinho.
Para Pilar, de forma geral, houve melhora, mas lenta: “Olhando de 2005 até agora, temos boas notícias. O Ensino Fundamental 1 segue melhorando, sobretudo do 1º ao 5º ano. Os resultados do 6º ao 9º ano não caem, mas a velocidade de melhora ainda é lenta.”
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Rosalina Soares também acredita que a melhora foi lenta e defende um olhar atento em relação aos dados: “Nos Anos Finais, observamos melhorias da Taxa de Rendimento e da Nota Padronizada ao longo do tempo. Mas a velocidade de melhoria se mostra lenta em relação as metas parciais estabelecidas.”, afirma Rosalina.
Para atingimos a meta em todas as etapas de ensino, Pilar defende que os modelos de ensino do Fundamental 2 e Ensino Médio precisam ser repensados: “O formato de ensino do 6º aos 9º anos não dialoga com os estudantes pré-adolescentes e adolescentes e isso impacta nos resultados. O Ensino médio não é animador, mas se a reforma for aplicada em todas as suas dimensões e variáveis acho que em 2023 podemos avaliar se a tendência é de melhora ou estagnação.”, analisa.
Como é calculado o Ideb
Medido a cada dois anos, o Ideb é o principal indicador de qualidade da educação brasileira. O Ideb é calculado com base em dados de aprovação nas escolas e de desempenho dos estudantes no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb). O Saeb avalia os conhecimentos dos estudantes em língua portuguesa e matemática. O índice final varia de 0 a 10.
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Avanços na rede pública
Nos anos iniciais do ensino fundamental, o índice passou, na rede pública, de 5,5 em 2017 para 5,7 em 2019, extrapolando a meta de 5,5 para o ano. Nas privadas, permaneceu 7,1, inferior à meta para essas escolas, que era 7,4 para o ano.
Desigualdade
Apesar do Brasil apresentar uma melhoria consistente nos Anos Finais desde 2007, é importante ressaltar que existem particularidades de acordo com cada território e município do País.
Rosalina Soares alerta para a desigualdade educacional existente no Brasil: “Há muitos estados em que poucos municípios alcançaram a meta. Isto sinaliza que a média Brasil revela avanços, mas sendo média, precisamos olhar para os dados de forma contextualizada, para enxergar que dependendo do território há muito a ser feito, também, nos Anos Iniciais.”, destaca a pesquisadora da Fundação Roberto Marinho.
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Rosalina complementa: “Destaco também que um dos componentes do Ideb é a média da Nota Padronizada, no Saeb. Mas que ao olhar para o percentual de Crianças que aprendem o adequado, observamos que no Brasil apenas 46,7% das crianças aprendem o adequando em Matemática e 56,5% em Língua Portuguesa, nos Anos Iniciais. O quadro mais chocante, a meu ver, relaciona-se a análise do percentual de estudantes deste segmento de ensino que aprendem o adequado, em Língua Portuguesa apenas 35,9% e em Matemática 18,4% e com muita desigualdades entre as regiões.”
Ensino Médio ainda não atingiu a meta
Depois de 12 anos estagnado, o Ensino Médio registrou o maior crescimento na história do Ideb. No entanto, nenhuma rede (estadual, privada ou pública) conseguiu atingir a meta. O ensino médio foi a única etapa que apresentou avanço também entre as escolas particulares, cujo Ideb passou de 5,8 para 6. O índice ficou, no entanto, abaixo da meta, que era 6,8.
Entre as públicas estaduais, índice teve um aumento maior, de 0,4, passando de 3,5 em 2017 para 3,9 em 2019. Mesmo assim, a rede estadual ficou abaixo da meta 4,6. De acordo com Pilar Lacerda, diretora da Fundação SM Brasil, para o País atingir a meta, é preciso que o Ensino Médio “chegue no século XXI.”
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Pilar afirma que as escolas precisam se reinventar: “ As escolas foram construídas com a mesma inspiração de presídios, hospícios e hospitais: pátio interno, muros altos, janelas das salas de aula lá no alto, com pouca ventilação e comunicação com o mundo exterior. E, além disso, continuamos com uma visão ultrapassada de decorar conteúdos só para passar na prova. Os conteúdos e a aprendizagem precisa ter significado para o jovem.”, afirmar Pilar.
Exemplos positivos
Apesar do Ensino Médio, de forma geral, não ter atingido a meta, alguns estados apresentaram um bom desempenho. Um deles é o Paraná que subiu para 9,2% o rendimento e 9% em nota padronizada, como mostra o gráfico abaixo:

Rosalina Soares explica esse bom desempenho: “Na série histórica na Taxa de Rendimento Paraná apresentava uma taxa de Rendimento na casa dos 82%. Entre 2017 e 2019 ocorreu um avanço fora da curva do histórico do Estado. Mas estamos em contexto de Pandemia, que pode afetar os indicadores, na próxima edição. Tudo indica ser um resultado de gestão, dado que a Nota padronizada também apresentou um aumento fora da curva histórica do Estado. Em avaliações sempre importa acompanhar o histórico e precisamos acompanhar os resultados de Paraná de Perto, na próxima edição.”, pondera Rosalina.
Além do Paraná, outros estados que também aumentaram seu rendimento no Ensino Médio foram Goiás, Pernambuco, Ceará e Espirito Santo. O que estes estados têm em comum? Um trabalho voltado para Gestão para Resultados: “Isto significa que há investimento em currículo mais atrativo para os estudantes, há investimento na carreira docente, há gestão para acompanhar a trajetória escolar (frequência e aprendizado). Em Educação faz toda a diferença acompanhar o processo de perto, para que as decisões processuais possam ser realizadas com base em evidências, dialogando com as necessidades de cada escola. Só existe resultado, se há gestão do processo.”, comenta.
E em 2021? O que esperar do Ideb?
Apesar dos avanços em todas as etapas de ensino, a próxima avaliação do Ideb, que deve ser realizada em 2021, é preocupante. Com a pandemia do novo coronavírus as desigualdades, sobretudo educacionais, foram acentuadas.
“A pandemia nos provoca a refletir sobre a organização rígida da escola, temos que recriar e reinventar a escola como um espaço em que acontecerão atividade presenciais e não presenciais.”
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Covid (Pnad Covid-19), 8,7 milhões de crianças, adolescentes e jovens do País não tiveram qualquer acesso a atividades de ensino remota em julho. Apenas sete em cada dez estudantes tiveram alguma aula a distância.
Além disso, de acordo com Pesquisa Juventudes e a Pandemia do Coronavírus, realizada pela FRM, 28% dos jovens pensaram em não voltar para a escola em 2021. E cerca de 49% deles pensaram em não fazer o Enem.
Pilar Lacerda acredita que os efeitos da pandemia terão um impacto muito negativo na Educação Básica: “Se insistirmos em fazer as mesmas avaliações em 2021, já sabemos que o resultado vai ser muito ruim. A pandemia nos provoca para refletirmos sobre a organização rígida da escola, temos que recriar e reinventar a escola como um espaço em que acontecerão atividade presenciais e não presenciais. Precisamos investir na formação de professores para o ensino híbrido. Temos que pensar em modelos de volta às aulas que tenham como foco direito à aprendizagem. ”, alerta a educadora.
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