Artigo: 13 de maio: a princesa não aboliu a escravidão

13 de maio: a princesa não aboliu a escravidão

No dia 13 de maio de 1888, a escravidão foi abolida no Brasil. O último país a abolir a escravidão no continente americano além de ter sido o país que recebeu o maior número de pessoas escravizadas nas Américas.

Quando se fala nesta data, para muitas pessoas vem em mente a imagem da Princesa Isabel, a filha mais velha do imperador Pedro II que assinou o documento que decretava o fim da escravidão do Brasil, pelo menos na teoria.  Mas quem de fato lutou pelo o fim desse regime de trabalho exaustivo e desumano foram milhares de escravizados, quilombolas, negros e negras livres, que lutaram com sangue, com dor, para conseguir acabar com esse flagelo, como explica o historiador, doutor e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Jorge Santana.

"O fim da escravatura não foi uma ação voluntariosa da princesa Isabel que foi partícipe do processo de escravidão, como princesa do maior império de pessoas escravizadas na idade moderna. A construção da Princesa Isabel enquanto salvadora é uma busca de apagar a agência histórica de negros e negras, de escravizados, de quilombolas, que deram muito sangue e sofreram bastante para conseguir acabar com a escravidão no Brasil", explica o historiador.

O fim da escravidão no Brasil não foi por um ato de bondade da monarquia brasileira. O que possibilitou esse passo importante e essencial na história do Brasil foi a luta popular e resistência dos escravizados.

"Eu não consigo enxergar a Princesa Isabel como alguém de mais destaque do que toda essa população negra que resistiu e que fez o fim da escravidão acontecer", destaca o professor da Uerj.

O abolicionismo ganhou força no Brasil a partir da década de 1870. Um marco relevante e que deve ser considerado foi a proibição do tráfico de pessoas negras, que aconteceu por meio da Lei Eusébio de Queirós, em 1850. Com essa lei, cortava-se a fonte que renovava os números de escravizados no território brasileiro.

Os quilombos sempre foram locais de resistência. Engana-se quem imagina não ter tido pressão popular. Tiveram inúmeras realizadas pela população livre, pelos escravizados e isso gerava um clima instável ao fim da década de 1880, quando o Império não tinha mais o controle sobre a situação. Pressionado, o Império teve de agir, e dessa forma, aprovou-se a Lei Áurea em 13 de maio de 1888.

Muitas mulheres tiveram papéis importantes nesse processo de abolição da escravatura. Mulheres negras que muitas vezes acumulavam dinheiro e, ao invés de comprar a alforria delas mesmas, compravam a alforria dos filhos mais novos. Foram as mulheres que arquitetaram e planejavam as suas liberdades, a liberdade dos seus e faziam seus planos. 

Em meio tantas mulheres que, de fato, lutaram pela liberdade dos negros está Dandara. Ela teve papel fundamental na construção e comando do quilombo dos Palmares, um dos marcos da resistência contra o regime escravocrata brasileiro, que existiu e resistiu como quilombo por mais de 100 anos.

Dandara participou do estabelecimento do primeiro estado livre nas terras da América, um estado africano pela forma como foi organizado e pensado, tanto do ponto de vista político quanto militar, sociocultural e econômico. Companheira de Zumbi, Dandara foi mãe de Aristogíton, Harmódio e Motumbo. 
Outra mulher que desempenhou um importante papel para a abolição da escravidão no Brasil foi Adelina, a charuteira que atuava como 'espiã'. Filha bastarda e escravizada pelo próprio pai, Adelina passou a vender charutos que ele produzia nas ruas de São Luís, no Maranhão. Adelina sabia ler e escrever e ao assistir os discursos de abolicionistas, decidiu se envolver na causa. De acordo com o Dicionário da Escravidão Negra no Brasil, de Clóvis Moura (Edusp), Adelina enviava à associação Clube dos Mortos - que escondia escravos e promovia sua fuga - informações que conseguia sobre ações policiais e estratégias dos escravistas.

Mas até onde vai a liberdade desses negros e dessas negras? O estado brasileiro sempre criminalizou a sua maior população, que é a população negra. A capoeira, o samba o funk, as religiões de matrizes africanas, ao se proibir ou criminalizar essas culturas, o Estado reforça mais uma vez que a escravidão, mesmo sendo abolida, muito da nossa cultura continua aprisionada em estigmas. 

A favela é o quilombo moderno. É lá onde milhares de negros e negras produzem suas culturas, seus espaços, fazem seus sons e até sua culinária. Na favela, a coletividade e o processo de construção da identidade são complementares desde o período colonial. 
 

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