Artigo: Juventudes na construção de uma cultura verdadeiramente democrática

Juventudes na construção de uma cultura verdadeiramente democrática

Dia desses comecei a observar nas redes sociais a circulação de memes e informativos incentivando jovens a tirarem seu Título de Eleitor. Para quem não está tão atualizade do assunto, até 4 de maio é possível regularizar sua situação eleitoral para estar apte a votar nas eleições para presidente, gorvernadories, senadories, deputades federais e estaduais que ocorrem em outubro desse ano. Alguns destes memes convocam especialmente jovens nascides já a partir de 2006 para marcarem presença nas urnas, com um clamor pela retirada do atual Presidente da República do poder.  

Memes e convocações para regularização do Título de Eleitor à parte, estar cercada dessas campanhas de incentivo à participação das juventudes na democracia, ainda que no âmbito representativo, me deixou com algumas inquietações que compartilharei por aqui. Pesquisando sobre os estudos acerca da movimentação de jovens na política, confesso ter encontrado dados bastante desmotivadores e ainda pouco aprofundados sobre o cenário em que vivemos.  

Atualmente jovens entre 15 e 29 anos compõem uma parcela considerável de 23% da população brasileira, de acordo com o IBGE. Sendo este o momento da história com o maior número de jovens em nosso país. Dessa parcela da população, 61% de acordo com o Atlas das Juventudes, é composta por jovens negres, dentre pretes e pardes. A atual composição da Câmara dos Deputados, consolidada nas eleições de 2018 demonstra, no entanto, uma disparidade entre essas porcentagens e o perfil de deputades federais eleites: a maior parte são homens brancos, com média de 49 anos.  

Também de acordo com o Atlas das Juventudes, estudo que criou um panorama significativo e inédito sobre as juventudes no Brasil, 38% des jovens entrevistades não gostam de política, 34% se interessam, 19% acham que a política é para quem tem competência e 9% são atives politicamente. 

Junto com esses dados sobre a população jovem, cabe ressaltar a jovialidade de nossa própria democracia: a primeira eleição direta para presidente após a Ditadura Militar de 1964 ocorreu em 1989, pouco mais de 30 anos atrás. No momento que antecede a primeira eleição, o movimento das Diretas Já de 1984 teve protagonismo indiscutível das juventudes, que trouxeram de maneira explícita a vontade de construção de uma forte democracia no país. 

Ao longo dos últimos anos, especialmente na última década, movimentos como as Jornadas de Junho de 2013, as ocupações estudantis de escolas em todo o Brasil entre 2015 e 2016, também se mostraram como importantes ações das juventudes na busca pela representação justa de suas demandas e seus direitos políticos. Com uma presença cada vez mais imponente nas redes sociais, nós jovens temos encontrado especialmente nas mídias não-tradicionais uma maneira de fazer nossas vozes serem ouvidas e ecoadas.  

Ainda que menos interessades pela política em seus vieses institucional e representativo, pautas indenitárias relacionadas a questões da população negra, direitos das mulheres, LGBTQIAP+, povos indígenas, pessoas com deficiência e afins, têm ganhado cada vez mais força no debate público mobilizado nas redes. Influencers são figuras importantes ao levantarem debates dessa ordem e embora em grande parte haja uma conscientização política a favor dos Direitos Humanos e pluralidade, existem também aqueles alinhades a um discurso de extrema direita que vêm aproveitando seu espaço de evidência para disseminar mensagens de ódio. De todo modo, cabe se atentar ao poder residente nas mídias sociais, de podcasts, videocasts, canais do YouTube a perfis em redes como Instagram e Twitter, compreendendo estratégias de engajamento positivo das juventudes por meio delas.  

A imagem mostra uma mulher segurando uma placa com "Vote!"

A tendência de jovens em se informarem e formarem politicamente por meio das redes, talvez mais do que por outros meios tradicionais, conflui com a existência de crenças e descrenças políticas comuns a toda população brasileira de maneira intergerecional. Se o antipartidarismo levou a crises políticas nos últimos anos, entoadas por veteranes do jogo político, respingos dessa crença chegam também às juventudes. Dentre as razões para 38% de jovens em um levantamento não gostarem de política, a desconfiança em relação às instituições e sua transparência é uma das mais frequentemente levantadas. Como não deixar que a frase clássica de que “Todo político é corrupto” seja uma herança para as juventudes? Nos desconectando da possibilidade de fazer política com a nossa cara e perspectivas mais plurais de mundo? 

A insatisfação geral de jovens com a política, dados os processos de desmonte de políticas públicas que em tantas esferas nos afetam, é compreensível e plausível. Vivemos dias de incertezas entremeados de esperança pela construção de futuros melhores. Mas pouco vemos na política de maneira ampla, a representatividade de nossas pautas e anseios coletivos. 

Muitas vezes, a indignação ganha vazão positiva com a construção de iniciativas autônomas e auto-organizadas a partir das quais buscamos resolver os problemas que assolam nossas comunidades, criando as respostas que o poder público não cria. Como aliar nossa criatividade e reiventividade aos meios institucionais, dando respaldo à expansão das soluções criativas que as juventudes criam para problemas sociais Brasil afora? 

Certamente a representação direta de mais jovens eleites é um passo crucial para que esse processo ganhe força. A construção de uma cultura democrática perpassa uma escuta ativa de quais pautas as juventudes têm levantado e mesmo que não da maneira tradicional, é possível observar que estamos sim preocupades com o futuro de nosso país. Seja no contexto ambiental, na criação de projetos múltiplos de mundo no presente, estamos mobilizades. Pelo voto ou por nossas ações cotidianas, que jovens possam se tornar cada dia maiores referências quando o assunto for a transformação de nosso futuro. Compreendendo que as maneiras de se fazer e pensar política são múltiplas, se expandem e co-potencializam. 

 

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