Pequeno guia para ser uma Jovem Transformadora
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Você se recorda dos sonhos da sua infância? Questões que gostaria de mudar no mundo ao seu redor, a partir do momento em que entendeu que eram grandes problemas?
Para começar esse artigo quero convidar você a um pequeno exercício de visualização sobre outros mundos possíveis, que podemos construir juntes. Serão necessários papel, caneta e cerca de 20 minutos do seu dia. Você topa? Convoque sua criança interior e aqui vamos nós:
Passo a Passo:
1. Tente se lembrar de algum problema social que te afetava quando você ainda era criança ou adolescente. Alguma questão no âmbito da educação, meio ambiente, política? Dou um exemplo meu: aos 16 anos eu estudava durante quase todo o tempo do meu dia. Quando refleti com professores que para meninas da minha idade que já tinham filhos isso não era possível, comecei a pensar sobre como seria interessante criar algum tipo de política pública para acolhê-las de modo mais integral.
Depois de pensar nesse problema, o escreva no meio da folha e faça um círculo ao redor dele.
1. Do lado esquerdo faça três setas e ao fim de cada uma delas escreva três soluções possíveis para estes problemas.
2. Do lado direito, faça mais três setas e escreva qual seria o primeiro passo em relação a cada uma das soluções possíveis.
3. Abaixo do círculo escreva quais ferramentas e recursos você tem disponíveis para contribuir com essa questão. Tempo, internet, conhecimento, amigues, professores, dinheiro, tudo é válido.
4. Acima do círculo escreva agora como seria o mundo ideal em que essa questão está resolvida. Dou meu exemplo novamente: um mundo ideal seria aquele em que adolescentes mães pudessem ter apoio integral para seu desenvolvimento intelectual, emocional e físico, sem terem de interromper suas formações por conta da maternidade.
Um passo final é colocar essa folha em um lugar que você sempre possa visualizar cotidianamente, em um mural ou na parede do seu quarto.
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Talvez, ao fazer o exercício, você tenha percebido que já coloca em prática algumas das soluções para resolver aquele problema com o qual sua criança se sensibilizou e sentiu empatia. Outra possibilidade é que você tenha deixado o sonho de resolver essas questões para trás a despeito da “vida adulta” e suas obrigações. E está tudo bem!
O princípio do exercício é que coloquemos a imaginação para trabalhar novamente, dado que tantas vezes esquecemos que o mundo como conhecemos é, ao fim das contas, também uma combinação de invenções. Invenções partindo do que milhões de pessoas imaginaram e imaginam ao longo das suas vidas. Se nós criamos os problemas, será que também não somos os próprios caminhos para as soluções? Relembrando a frase do filósofo contemporâneo Emicida: “Tudo que nóis tem é nóis”. Como um projeto de antropóloga que vê a cultura como meio de construção de qualquer existência coletiva em sociedade na Terra, eu não poderia concordar mais!
Quando me tornei Jovem Transformadora Ashoka em 2019, me recordo de ter um mundo de novas possibilidades se abrindo à minha frente. Especialmente no sentido de observar como projetos que co-construí ao longo da vida tinham similaridades e um lugar de acolhida junto de outres jovens que acabavam de ser reconhecides como parte dessa rede. Minha criança e minha adolescente inventiva interiores se sentiram abraçadas! Jovem Transformador(a/e) de acordo com a Ashoka, são jovens que ativam suas habilidades transformadoras resolvendo problemas enfrentados coletivamente, criando possibilidades de empoderamento coletivo de suas comunidades.
A Ashoka é uma ONG internacional que tem atuado desde a década de 80 impulsionando mudanças sistêmicas no mundo através do trabalho de empreendedores sociais. Há alguns anos o foco da organização tem sido a co-criação de um Movimento Por um Mundo de Pessoas que Transformam, em que toda e qualquer pessoa reconheça seu potencial para gerar transformação positiva para o bem-comum. Nós jovens somos parte crucial desse processo.
Na direção de tudo que venho aprendendo com essa rede tão potente, gostaria de deixar no espaço desse artigo, além do exercício de visualização, uma espécie de “Pequeno guia para ser uma Jovem Transformadora”. Livremente inspirado nas minhas experiências e observações como jovem transformadora.
Não sei ao certo a idade de quem me lê! Então se você é uma pessoa jovem, se dê a oportunidade de colocar esse guia em ação no seu dia-a-dia! Se você é mãe, pai ou responsável de uma criança ou adolescente, sinta-se livre para se inspirar pelo guia na hora de propiciar vivências transformadores para sues filhes. Essa não é uma receita, tudo aqui é de brincadeira, porém brincadeira séria!
Como vimos nas colunas até aqui: problemas diversos atravessam as juventudes estruturalmente no Brasil e no mundo. Esses problemas variam de contexto para contexto, dentro de suas especificidades. Assim, cabe às pessoas de cada comunidade localmente entender quais são os caminhos mais adequados para resolvê-los. Ouvir jovens nessa jornada de transformação social é essencial para que as mudanças façam sentido para todes.
Aplique esse pequeno guia de acordo com a sua realidade!
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Pequeno guia para ser uma Jovem Transformadora
1. Estimule sua criatividade e imaginação
Como compartilhado na coluna anterior sobre juventudes e pluriversalidade, uma das grandes maneiras de desconexão de nosso potencial transformador está em aceitar a reprodução de problemas estruturais de nossa sociedade como únicas formas possíveis de constituição da vida.
Manter a criatividade e a imaginação ativas é necessário para compreender nosso poder de ação. O que você faria se não tivesse nenhuma barreira de espaço-tempo-recursos para contribuir com o empoderamento coletivo de sua comunidade ou território?
Conheça as histórias das pessoas que estiveram ali antes de você, escreva, desenhe, cante, dance, se expresse e mantenha caminho aberto para que sua criança interior continue reinventando o mundo com você.
2. Conexão com sua própria realidade, problemas e potencialidades
Acredito ser muito importante buscarmos agir localmente em nossas comunidades e territórios como passo inicial de outras ações maiores. Ter conexão com nossa própria realidade significa se manter atualizade das questões que a atravessam, as urgências do presente e quais caminhos residem nela mesma para transformá-la na direção do bem-comum. Nesse ponto você pode identificar em qual frente de atuação gostaria de se dedicar.
De forma prática isso pode significar: Criar ou frequentar espaços de diálogo coletivo e aberto como associações, saraus, slams, escolas, organizações já atuantes e existentes no território. Se manter informade por meio de mídias locais (Quem sabe criá-las? Um podcast, um jornal comunitário, uma lista de transmissão no WhatsApp.).
3. Liberdade de espaço e tempo para agir
Depois de entender o problema e buscar um projeto de solução, toda concretização de projeto necessita de tempo e espaço livres para fluir, ou seja, possibilidade de dedicação a ele. Busque criar esses momentos dentro de sua agenda: Semanalmente? Todos os dias? Uma vez ao mês?
Uma agenda organizada nos liberta!
Sugiro colocar esse guia em prática depois do exercício de visualização, que serve como uma espécie de diagnóstico depois de um diálogo com nossa criança interior. Mantenha esse canal de comunicação aberto!
Como uma dica extra: continue a continuamente e infinitamente se inspirar pelas histórias de outres jovens! No Canal Futura e no Globoplay recentemente passaram a serem exibidas as histórias de algumes Jovens Transformadores que compõem a rede Ashoka e suas sensacionais iniciativas. Saber do que as múltiplas juventudes têm feito e transformado no mundo, nos relembra de nosso poder de ação coletivo. Seja você jovem transformador(a/e), mãe, pai, responsável ou adulte, se lembre de sonhar outros futuros. Eles estão disponíveis na palma da nossa mão e já sendo co-criados no agora.