Quantos negros estão sentados ao seu lado?
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Nos últimos anos, graças às políticas afirmativas, vimos as universidades ficarem mais negras. Somos 50,3% dos estudantes das universidades públicas do país, segundo a pesquisa “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil”, divulgada pelo IBGE em 2019. O número de estudantes nas universidades particulares também aumentou, segundo a mesma pesquisa, chegando a 46,6%.
Esses dados são resultados de mobilizações sociais e políticas públicas, porém apesar de todas essas iniciativas, quando chegamos ao mercado de trabalho ainda nos deparamos com um cenário distante de justiça racial.
Em 2020 o portal Vagas.com realizou uma pesquisa com sua base de usuários que se autodeclarava negra e constatou que apenas 5% das pessoas negras cadastradas ocupavam cargos de diretoria ou gerência. Nós rompemos a barreira do acesso às universidades, porém é uma tarefa, quase, impossível romper com o muro imposto pelo racismo estrutural.
Hoje, como liderança na empresa que trabalho, ainda me deparo com falas do tipo: “Você é a minha primeira chefe negra.” Ser a primeira mostra como tudo ainda é desigual. Nos tornamos a exceção que confirma a regra, vivendo na dicotomia de ser a maioria, mas se sentindo como um estranho quando subimos algum degrau na pirâmide social. Ser o primeiro em algo traz um peso desumanizante e uma solidão. Quando chegamos “lá” chegamos cansados, porque tivemos que enfrentar muitos muros e sabemos que outros ainda surgirão na nossa frente.
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Os negros nas empresas
As cotas nas universidades e, mais recentemente, o boom de programas de diversidade e inclusão nas empresas proporcionam a geração de primeiros, da qual faço parte. Mas, para transformar os 5% em 56%, as empresas vão ter que se esforçar um pouco mais.
Temos que pegar todo o arcabouço teórico e boas práticas, como: ações afirmativas; programas de reparação social; investimento em desenvolvimento e capacitação; acompanhamento e medição das metas e juntar com uma escuta ativa. Precisamos ouvir, acolher, criar uma rede de apoio, entender o histórico social dessas pessoas e olhar para elas com um olhar humanizado. Sabemos que a nossa cor chega antes do nosso nome, mas precisamos, e queremos, ser mais do que a meta da organização. Queremos poder ser o que nos preparamos para ser.
Não existe receita de bolo para a construção de uma empresa diversa e inclusiva, mas uma coisa eu posso garantir: não existe compromisso com a justiça racial e justiça social sem uma alta gestão diversa. Uma empresa inclusiva é feita de incômodos e boas conversas e isso só é possível quando existe espaço para o outro.