Artigo: Seria possível uma infância sem racismo?

Seria possível uma infância sem racismo?

Racismo na infância. No dia 30 de junho, eu estava com a minha família em Campo Grande, subúrbio do Rio de Janeiro, quando comecei a ver notícias sobre o caso de racismo sofrido por Bless e Titi, filhos da atriz Giovanna Ewbank e do ator Bruno Gagliasso. Esse acontecimento ratifica, o que já é de ciência de muitos: o racismo é estrutural e estruturante, como diz Silvio Almeida. Logo, atingir camadas mais elevadas de renda não vai te impedir de passar por agressões.

Das microagressões até as grandes violências, se é que podemos categorizar o sofrimento, o que sobra é a cicatriz. Cicatrizes que acompanham esses corpos pelo resto da vida. Daí, pergunto: depois de todos os livros, de manuais antirracistas e de fotos com quadrados pretos no Instagram, será possível, um dia, uma infância sem racismo?

Em 2021, a equipe do Centro de Desenvolvimento Infantil da Universidade de Harvard desenvolveu um infográfico que explica as consequências do racismo sofrido na infância. A pesquisa sugere que o enfrentamento constante do racismo sistêmico e da discriminação cotidiana é um potente ativador da resposta ao estresse. É possível que isso explique as origens primárias das disparidades raciais, no que se refere a doenças crônicas ao longo da vida.

Racismo e renda

Os dados mostram que pessoas não-brancas, nos Estados Unidos, são mais suscetíveis a terem problemas crônicos e menor expectativa de renda, independentemente do nível de renda. Dados como esse comprovam que o racismo é uma questão de política pública e de responsabilidade de todo cidadão.

Hoje, no Brasil, somos 56% da população, que estão constantemente sendo atravessados por violências, sejam elas vindas da falta do Estado ou do olhar de um amigo de trabalho. Conceição Evaristo diz: “Eles combinaram de nos matar, nós combinamos de não morrer”. Precisamos, no entanto, mais que "não morrer", precisamos poder ser. Precisamos poder seguir vivos e com saúde.

Para isso eu faço um apelo e peço que deixem as nossas crianças viverem. Deixem nossas crianças com seus cabelos, deixem nossas crianças serem super-heróis, deixem nossas crianças irem às escolas, lutem para que nossas crianças saiam das ruas, se indignem e partam para a ação quando ouvirem alguma fala racista - e o principal: ensinem as suas crianças que o mundo não é apenas delas.

O direito a uma infância sem racismo é uma questão de dignidade e de saúde. Faça a sua parte.

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