Conexão Povos da Floresta alcança marca de 1 mil comunidades conectadas em áreas protegidas da Amazônia
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Iniciativa em rede já beneficiou cerca de 81 mil pessoas
O projeto Conexão Povos da Floresta, iniciativa em rede liderada pelas organizações de base Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), e que conta com a Fundação Roberto Marinho desde o início das ações, alcançou esta semana a marca de 1 mil comunidades indígenas, quilombolas, extrativistas e ribeirinhas conectadas.
A iniciativa, realizada em parceria com mais de 30 organizações da sociedade civil, instituições e empresas, tem como objetivo conectar em rede, através de internet banda larga, mais de 5 mil comunidades em territórios protegidos da Amazônia Legal. O projeto alia conectividade a programas de inclusão, segurança e empoderamento nas comunidades beneficiadas.
Instalações
O Conexão Povos da Floresta realizou a primeira instalação da fase-piloto em março de 2023, na Terra Indígena (TI) Yanomami, e alcançou a marca de 1 mil comunidades conectadas no último dia 22 de agosto, com a instalação de um kit de conexão com internet banda larga via satélite na comunidade Serafina, em Curralinho (PA), na Reserva Extrativista (Resex) Terra Grande-Pracuúba. Já são mais de 27 mil usuários cadastrados e uma população diretamente beneficiada de cerca de 81 mil pessoas.
“Esse projeto deve mudar muito a vida de muitas pessoas. Vai melhorar a vida dos estudantes e a vida de quem vai poder marcar daqui mesmo um exame lá na cidade, sem precisar enfrentar doze horas de viagem, por exemplo”, afirma o comunitário Silvio Tavares de Souza, presidente da Associação-Mãe da Resex Terra-Grande Pracuúba.
Até o final de 2025, o objetivo é conectar 1 milhão de pessoas moradoras de áreas protegidas da Amazônia Legal, responsáveis por conservar 120 milhões de hectares de floresta.
“Mais do que levar acesso à internet a essas populações, o objetivo é conectá-las em uma rede forte e representativa”, afirma o presidente do conselho deliberativo do Conexão e um dos idealizadores do projeto, Tasso Azevedo.
“Os povos tradicionais têm um papel fundamental na proteção da Amazônia e dos demais biomas. As áreas protegidas onde vivem os povos da floresta são as mais conservadas da Amazônia. Embora representem um terço da região, apenas 1% do desmatamento dos últimos 40 anos aconteceu nessas áreas. Nesse contexto, a conexão em rede é uma plataforma que permite o empoderamento dessas comunidades e amplia o acesso à educação, saúde, segurança e empreendedorismo”, completa.
Para o secretário de relações internacionais do CNS, Joaquim Belo, chegar a mil comunidades conectadas representa uma transformação significativa para os povos da floresta.
“Por meio deste projeto, temos visto, em colaboração com as comunidades beneficiadas, a importância de conectar esses locais ao mundo. Além de possibilitar acesso à tecnologia, essa iniciativa promove políticas públicas essenciais, como educação, saúde e empreendedorismo, além de fortalecer a defesa dos territórios e a proteção dos direitos humanos”, destaca Joaquim.
“Alcançar a marca de 1 mil pontos de conectividade é motivo de grande alegria para nós, pois demonstra como a iniciativa está alcançando cada vez mais comunidades, levando conexão, segurança e outros benefícios para essas populações”, reforça o coordenador tesoureiro da Coiab, Avanilson Karajá.
“Para os povos indígenas, a internet pode ser uma ferramenta de monitoramento do território, de combate e denúncia de crimes ambientais e outras violações em terras indígenas”, completa ele.
Já o coordenador executivo da Conaq, José Carlos Galiza, ressalta os aspectos do projeto para além da conectividade, como a educação e a proteção territorial.
“Falar desse projeto é falar com alegria de pessoas voltando a estudar, fazendo aulas online. É falar de pessoas que muitas vezes queriam fazer uma denúncia de um agravo ambiental de defesa do seu território, e hoje têm um canal aberto. O projeto tem fortalecido ainda o empreendedorismo, e já vemos pessoas mostrando os seus produtos e correndo atrás de formação”, afirma Galiza.
Conectividade como meio
A ideia do projeto é que a conexão em rede, através da internet banda larga, funcione como uma ferramenta de transformação social para as comunidades beneficiadas, permitindo o acesso à saúde, educação e oportunidades profissionais, e assegure a proteção dos territórios e das pessoas, com isso, ajudando na conservação da floresta.
Para isso, o projeto atua baseado em três principais pilares: a implementação da infraestrutura necessária para a criação uma rede local conectada à internet banda larga; a implantação de um sistema de gestão e controle local da rede em cada comunidade, respeitando as suas demandas e seus costumes; e a oferta de programas de inclusão digital, com ações nas áreas de saúde, educação, empreendedorismo, monitoramento e proteção territorial e cultura e ancestralidade.
“A chegada desse projeto nos ajudou muito. Pessoas já estão estudando online, o que antes não podiam pelo fato de não ter acesso à internet”, conta Lucille Cardoso, moradora da comunidade Andurú, uma das beneficiadas pelo projeto, localizada na Reserva Extrativista (Resex) Tapajós-Arapiuns, no Pará.
Já a comunitária Luciene Lima, presidente da Associação dos Produtores Agroextrativistas da comunidade Nova Esperança (AANE), localizada na Reserva Extrativista (Resex) Médio Juruá, no Amazonas, destaca as ações de saúde como um dos impactos positivos do projeto.
“As consultas por telemedicina são uma das ações mais procuradas pelos comunitários, tanto da nossa própria comunidade quanto de comunidades próximas. A telemedicina está revolucionando o acesso à saúde para a nossa população e somando à nossa qualidade de vida”, ressalta Luciene.
“Essa rede trouxe vários benefícios para nós. Conseguimos divulgar as ações que acontecem dentro da nossa comunidade e também melhoramos o monitoramento e a vigilância do nosso território em relação a queimadas e desmatamento”, relata ainda Alexandre Apolinário, facilitador na aldeia Boqueirão, em Roraima.
Como funciona
As comunidades recebem um kit de conectividade que inclui equipamentos como roteador de alta capacidade, antena de internet banda larga via satélite, celular e computador.
Além disso, as comunidades sem acesso à fonte estável de energia também recebem um kit de energia solar, com placas fotovoltaicas e um sistema de baterias de longa duração, que permite manter a rede funcionando 24h por dia.
Para garantir o uso consciente da conexão, um aplicativo foi desenvolvido especificamente para que cada comunidade possa fazer a gestão da sua rede, de acordo com as regras que forem acordadas coletivamente, incluindo cadastro e controle de acesso dos usuários, tempo e horário de uso e filtros de conteúdos indesejados.
Já os programas de saúde, educação, empreendedorismo, entre outros, são oferecidos através de grupos de trabalho organizados entre os integrantes da rede Conexão Povos da Floresta. As ações oferecidas pelos programas incluem, por exemplo, o curso de Sabedoria Digital, voltado aos facilitadores de todas as comunidades, o programa de telemedicina e a formação de empreendedores comunitários.
Mais informações sobre o projeto podem ser encontradas no site oficial da iniciativa, em conexaopovosdafloresta.org.
Sobre a Fundação Roberto Marinho
A Fundação Roberto Marinho inova, há mais de 40 anos, em soluções de educação para não deixar ninguém para trás. Promove, em todas as suas iniciativas, uma cultura de educação de forma encantadora, inclusiva e, sobretudo, emancipatória, em permanente diálogo com a sociedade. Desenvolve projetos voltados para a escolaridade básica e para a solução de problemas educacionais que impactam nas avaliações nacionais, como distorção idade-série, evasão escolar e defasagem na aprendizagem. A Fundação realiza, de forma sistemática, pesquisas que revelam os cenários das juventudes brasileiras. A partir desses dados, políticas públicas podem ser criadas nos mais diversos setores, em especial, na educação. Incentivar a inclusão produtiva de jovens no mundo do trabalho também está entre as suas prioridades, assim como a valorização da diversidade e da equidade. Com o Canal Futura fomenta, em todo o país, uma agenda de comunicação e de mobilização social, com ações e produções audiovisuais que chegam ao chão da escola, a educadores, aos jovens e suas famílias, que se apropriam e utilizam seus conteúdos educacionais. Mais informações no Portal da Fundação Roberto Marinho.