Webinar “História Geral da África e Discriminação Racial: o que mudou no Brasil?”
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Por uma educação antirracista: webinar discute o papel da escola no combate à discriminação racial
Na última quinta-feira, dia 26/11, o YouTube da Unesco transmitiu o seminário “História Geral da África (HGA) e discriminação racial: o que mudou no Brasil?”, que reuniu especialistas para celebrar o novo lançamento da Coleção História Geral da África em língua portuguesa e debater soluções para promover uma educação antirracista nas escolas.
Principal obra de referência sobre o assunto, a Coleção HGA foi produzida ao longo de 30 anos por mais de 350 especialistas das mais variadas áreas do conhecimento, sob a direção de um Comitê Científico Internacional formado por 39 intelectuais, dos quais dois terços eram africanos.
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Os participantes debateram sobre a contribuição da educação e aprendizagem para um pensamento mais amplo e profundo da história do continente africano em busca de uma educação antirracista, que supera preconceitos e valoriza a importância do continente para a formação da sociedade brasileira.
Abertura
O seminário contou com a mediação da apresentadora da Rede Globo Valéria Almeida. Na abertura, a diretora e representante da UNESCO no Brasil Marlova Noleto falou sobre a Coleção História Geral da África (HGA) e refletiu sobre a discriminação racial no Brasil.

“Lamentavelmente pouca coisa mudou e nós continuamos flertando com a barbárie”, afirmou Marlova, lembrando o episódio em que João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, foi morto por dois homens brancos em supermercado de Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
“É dever de todos impedir que isso aconteça. O combate ao racismo faz parte de um compromisso essencial, o compromisso com a dignidade e valor da vida humana”, lembrou a representante da UNESCO. Para ela, a coletânea HGA contribui ao oferecer ferramentas para uma educação antirracista.
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Georgia Pessoa, diretora executiva do Instituto Humanize (IH), seguiu a fala destacando a importância do tema: “O combate ao racismo estrutural se coloca para nós como uma pauta fundamental. Quando a gente olha na história do Brasil mais de 400 anos de escravidão, vê que isso tudo deixou como herança um racismo enraizado e como isso ressoa em uma violência sofrida em especial pela população negra”.
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A terceira fala do evento foi feita pelo Coordenador de Programação da Fundação Roberto Marinho Acácio Jacinto, que comentou a contribuição da FRM para a disseminação do conhecimento da História Geral do continente africano e a importância de implementar práticas antirracistas na educação. “Esse processo nos levará a uma redescoberta de nós mesmos”, refletiu Acácio, que ressaltou a urgência da pauta: “O preconceito contra negros no Brasil existe sim e traz muito sofrimento e prejuízos para a nossa sociedade. Ele não só pode, como deve ser combatido”.

Painéis
A cientista política e professora Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (NEPP-DH/UFRJ) Fernanda Barros abriu o primeiro painel com o tema “as relações étnico-raciais na escola no Brasil”. Ela falou dos efeitos do racismo a nível nacional e global, além de relembrar grandes pensadores negros como Nelson Mandela e Sueli Carneiro.
A professora lembrou da educação como chave para o fim do que Sueli Carneiro chamou de “colonialismo do saber”, que hierarquiza o conhecimento e “leva a visão eurocêntrica de mundo para os bancos escolares”.
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Fernanda lembrou dos efeitos deletérios do racismo para os estudantes brasileiros. Ela ressaltou a importância de construir uma imagem positiva e trabalhar a autoestima de crianças e adolescentes negros a partir de uma visão decolonial. Sendo assim, para a cientista-política, o lançamento em português da coleção História Geral da África pela UNESCO é de suma importância ao contribuir na construção de novas perspectivas sobre a história dos povos do continente africano.
Há 30 anos na magistratura, a Professora da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal Gina Vieira Ponte também alertou a urgência da pauta da educação antirracista: “A descolonização é fundamentalmente um problema pedagógico. A nossa base histórica-colonial faz com que a gente eleja nos nossos currículos e nos nossos materiais didáticos uma suposta supremacia branca judaico-cristã. A gente trata todas as identidades indígenas dos povos originários e dos povos negros que migraram forçosamente da África para o Brasil como se fosse folclore brasileiro”.

Para ela, a educação é uma área estratégica para reparar esse processo de apagamento de símbolos e referenciais da cultura afro-brasileira, chamado de epistemicídio.
Gina acredita que é necessário abraçar uma agenda antirracista e antissexista como compromisso com a garantia do direito à aprendizagem. “A nossa escola, currículo e materiais didáticos são coloniais e ainda representam negros e indígenas de maneira estereotipada, estigmatizada, e invisibilizam as mulheres”, pontua.
É preciso reconhecer que nossos problemas educacionais são problemas de desigualdade social. Ou a gente dá centralidade para a questão racial ou a gente não vai conseguir resolvê-los. Essas questões estão intrinsecamente ligadas
Gina Vieira
O papel da mídia
A comunicóloga antirracista Katiúcha Watuze lembrou da importância dos meios de comunicação para a transformação da sociedade. Para ela, a coletânea História Geral da África, desenvolvida pela UNESCO, atua neste ponto fundamental: o de levar perspectivas decoloniais para a sala de aula.
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“A identidade do negro brasileiro foi corrompida a partir da forma com que essa imagem foi contada. De que forma a gente vai contar uma nova história com um conteúdo mais abrangente? A coleção passa por esse lugar porque pela primeira vez África está falando de África”, destaca.
Katiúcha refletiu sobre a imagem marginalizada do negro no Brasil e também do lugar de único: a única apresentadora, a única protagonista negra, o único jornalista. Ela acredita que o próximo passo é sair deste lugar das exceções: “É preciso que as pessoas entendam a pluralidade dos negros e por isso precisamos de vários personagens negros. Para que, assim, as crianças construam uma imagem diferente de si mesmo”.
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Seguindo a fala da comunicóloga, o ator Orlando Caldeira fechou o seminário falando da importância do referencial positivo e de se ver representado na arte e nos meios de comunicação.
Assista o Webinário História Geral da África e Discriminação Racial: o que mudou no Brasil?
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