Artigo: Aprendizagem peripatética: caminhos de asfalto e de bits

Aprendizagem peripatética: caminhos de asfalto e de bits

Além da palavra “peripatética” ser curiosa e divertida, a aprendizagem baseada nela pode proporcionar um novo estímulo na volta às aulas. Os discípulos do filósofo Aristóteles (366 a.c) eram conhecidos como “peripatéticos” porque caminhavam nas cidades-estado durante as lições do mestre; ou seja, eram ambulantes, itinerantes. Não apenas o escutavam, mas questionavam e participavam ativamente da jornada. Transportado o mesmo conceito à contemporaneidade, é possível fazer um paralelo com o direito à cidade e o potencial de aprender circulando pela comunidade – seja ela física ou digital.

Ao promover atividades assim, a escola valoriza uma prática que, desde a crise sanitária não pôde ser explorada, nem mesmo por estudantes, ou suas famílias. Educadores podem, com as aulas presenciais e híbridas, tencionar os limites da sala de aula, e ajudar a superar os muros da escola, dessa vez com intencionalidade.

A educação peripatética não pode ser confundida com a tradicional excursão escolar; o exercício não é de apenas contemplação, mas também de participação ativa. Criar vínculos com os desejos dos alunos, com os conteúdos do currículo e promover o desenvolvimento de competências, como pesquisa e produção de mídias, ajudam a tornar as experiências desse tipo significativas. O objetivo principal da educação peripatética é que o currículo (a chamada educação formal) se aproprie da cultura e da arte (elementos da chamada educação informal) e potencialize assim a aprendizagem do grupo.

O movimento mais simples para se formar um grupo peripatético é explorar os museus, bibliotecas ou outros acervos locais, pois esses já contam, na maioria das vezes, com uma estrutura para receber grupos de estudantes, além de preços mais acessíveis. Eis algumas sugestões de como realizar esse tipo de atividade, e seus pressupostos:

  • Abrir a escuta aos estudantes sobre qual local ou acervo gostariam de visitar. Para isso, educadores e educandos devem criar, em conjunto, uma agenda cultural, estimulando a pesquisa e a busca de fontes de qualidade, para uma montagem coletiva.
  • Escolhido o destino, é importante compartilhar com a equipe docente com quais elementos da BNCC, e do currículo da escola, a visita dialoga. Caso o acervo seja muito amplo, é fundamental construir um recorte intencional, uma curadoria coletiva de que pontos explorar.
  • Em conjunto com os estudantes, é importante definir um produto final, que possa ser produzido após a jornada e que agregue as aprendizagens do grupo. Documentários feito com o celular, um álbum de fotos no Instagram, ou mesmo um pequeno jornal comunitário são produtos que nasceram de experiências itinerantes. É também interessante explorar os acervos de museus digitais, e outros sites, que dialogam com o propósito da jornada.
  • O “caminho” é tão importante quanto o “destino”. O percurso, realizado à pé ou por meio transporte público, deve fazer parte do universo de descobertas, por meio de questões a serem observadas pelo grupo.
  • A escassez pode se tornar um fator de estímulo à criatividade. Nesse sentido, descobrir pontos pouco explorados da comunidade, e como resultado criar um blog sobre o potencial cultural local é uma ideia de produto para os estudantes. A pesquisa e fluência digitais têm uma grande oportunidade de serem exploradas, num exercício que integra os mundos online e offline.

Ocupar os espaços da cidade como espaços de aprendizagem também auxilia no processo de democratização dos mesmos; aparelhos culturais são para uso de todos. Para que a experiência peripatética seja inesquecível e tenha um impacto real na aprendizagem, o olhar estratégico e crítico do educador devem ser constantes. Atividades como essas podem parecer óbvias, mas, muitas vezes, por esse mesmo motivo, não enxergamos seu potencial. Muitas vezes, é percorrendo o caminho, que se descobre a importância de se caminhar.

Escola Invisível

Ajude a FRM a evoluir

O que você achou desse conteúdo?