O pensamento computacional é uma forma de pensar resolução de problema orientado a dados e em partes pelo raciocínio lógico. Se popularizou em 2006 entre a comunidade de educação em ciências da computação. O artigo “Computacional thinking" bastante conhecido e disseminado entre a comunidade foi da professora Jeannette Wing, ela defendeu a ideia de que pensamento computacional não deveria ser ensinado somente para cientistas da computação.  

O conceito se divide em 4 grandes etapas :  

1. Decomposição - Quebrar o problema em partes menores;  
2. Reconhecimento de padrões; 
3. Abstração: Formulação de problemas;  
4. Algoritmos: Execução e avaliação da solução. 

A maior parte da literatura disponível é mantida por norte-americanos e europeus, logo há um certo viés na forma que o conceito será disseminado para o mundo. Há algumas críticas em relação a como o pensamento se diferencia de outros tipos de pensamento, pois não fica muito óbvio as diferenças e se há diferenças. Uma das críticas é sobre a vaga definição, criando uma dificuldade de aplicação do conceito em diferentes culturas.  

Aqui no Brasil, a experiência foi sendo adaptada de acordo com a cultura e a especificidades da educação daqui, por exemplo, quando eu trabalhei e pesquisei o tema focado no ensino fundamental, não conectei com tecnologia digital, tentei ao máximo utilizar as experiências manuais da educação, pensar um problema real, dividir os alunos em funções reais, estimular a conversa entre áreas diferentes para resolução de um mesmo problema.

A complexidade do Brasil nos permite reinventar as práticas do pensamento computacional, na plataforma do CIEB é possível visualizar uma proposta importante para o ensino de computação nas escolas, dividido entre os segmentos da educação básica e profissional técnica, o currículo que está em constante transformação tenta propor o pensamento critico da tecnologia para além do pensamento computacional. Aqui o pensamento computacional é somente uma parte da proposta. 

É necessário entender como o Brasil tem sido impactado com a falta de aproximação do pensamento computacional com a nossa cultura. Um dos desafios da educação na era digital é entender as verdadeiras demandas da educação, precisamos repensar o caminho que as tecnologias de informação fizeram até aqui, é fundamental combater o pensamento tecnicista que se desenhou na educação brasileira. É preciso estimular os estudantes e professores para um posicionamento critico e de criação das tecnologias que ajudarão a desenvolver uma melhor colaboração entre a educação brasileira e a tecnologia. O pensamento computacional alinhado a este objetivo pode ser um divisor interessante.  

O pensamento computacional em sua essência busca tornar o debate sobre o ensino da informática mais acessível, por isso, que não faz sentido sintetizar ele só com a inserção de tecnologia digital em salas de aula. Este conceito permeia a nossa comunicação também, no período pandêmico em que estamos vivendo, comunicação digital está presente em diferentes contextos. Alguns temas importantes para o segmento educacional têm sido explorados nas redes sociais e nem sempre há oportunidade de aprofundar os temas nestes meios pois um dos principais pilares das redes sociais é o assunto momentâneo, logo, não há uma continuidade do debate como é feito na educação tradicional.

O fato de termos problemas reais atravessando os alunos e suas vivências em diferentes idades, deveria ser um fator importante na hora de pensar exercícios e a inserção do pensamento computacional em salas e aula. Já estamos com muitos dados e informações, há novas doenças surgindo por causa deste enxame de informação. Logo, é preciso reaproveitar nossos meios. 

Neste contexto, o pensamento computacional é um grande aliado na explicação da cidadania no mundo dominado pelo digital, uma de suas forças é o pensamento critico a cerca de tecnologias e do digital, como dito anteriormente, estamos imersos a uma comunicação digital, logo é necessário para além da interpretação um bom desenvolvimento do pensamento critico para separar o que são definições reais feitas a partir de fatos e o que são definições colocadas em redes sociais a partir de uma opinião.

Percebo uma certa confusão na abordagem de pensamento computacional no Brasil, que acaba focando só em disciplinas que envolvam números, raciocínio lógico. Iniciei este artigo trazendo a definição de pensamento computacional focado em dados e raciocínio lógico, por conta da influência americana e europeia. Entretanto, trabalhando com o tema no Brasil percebi a expansão para além desta definição, por isso, entender pensamento computacional no contexto brasileiro se faz tão necessário, talvez este artigo tenha uma continuidade, por agora gostaria de compartilhar este questionamento que me acompanha há uns três anos